domingo, 25 de outubro de 2009

Outono




Outono. Os dias sombrios, as folhas caídas no chão, castanhos, amarelos torrados, verdes musgo, galhos expostos.
Gosto. O granito escurecido pelo tempo, as casas velhas, as portas de madeira que ainda sobram da barbárie, os passeios tumulares, a pedra portuguesa onde ainda resiste.
“amo-te!” meio corpo de dentro de uma porta de aço enquadrada em cantaria. Vestida de preto, uma jovem lança a palavra para alguém que estava no fim da rua. Não olhei para trás por inibição. A porta fechou-se.
O que tem isto de mais para me impressionar? Pensei logo de imediato enquanto via a montra do alfarrabista. Cheguei à conclusão que apesar de a palavra ser um lugar comum em todo o universo romanesco e novelesco do nosso dia a dia, raramente é empregue em público. Há uma inibição no uso da mesma publicamente.
Outros Outonos com este se cruzam, ou não. A mãe a insistir em ir comprar as malaguetas a Atães. E fomos. A alma a forçar o corpo até ao limite, mas este, tirano, a vencer. O Opel Corsa vermelho, a estrada cheia de buracos, as dores a sobreporem-se ao prazer. Uma “via crucis” do Porto a entre-os-rios. Deus cruel, que tudo ofende e nada respeita. E tudo por causa de umas malaguetas para fazer piri-piri. Ou talvez apenas um pretexto para viver.

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