domingo, 25 de outubro de 2009

Outono




Outono. Os dias sombrios, as folhas caídas no chão, castanhos, amarelos torrados, verdes musgo, galhos expostos.
Gosto. O granito escurecido pelo tempo, as casas velhas, as portas de madeira que ainda sobram da barbárie, os passeios tumulares, a pedra portuguesa onde ainda resiste.
“amo-te!” meio corpo de dentro de uma porta de aço enquadrada em cantaria. Vestida de preto, uma jovem lança a palavra para alguém que estava no fim da rua. Não olhei para trás por inibição. A porta fechou-se.
O que tem isto de mais para me impressionar? Pensei logo de imediato enquanto via a montra do alfarrabista. Cheguei à conclusão que apesar de a palavra ser um lugar comum em todo o universo romanesco e novelesco do nosso dia a dia, raramente é empregue em público. Há uma inibição no uso da mesma publicamente.
Outros Outonos com este se cruzam, ou não. A mãe a insistir em ir comprar as malaguetas a Atães. E fomos. A alma a forçar o corpo até ao limite, mas este, tirano, a vencer. O Opel Corsa vermelho, a estrada cheia de buracos, as dores a sobreporem-se ao prazer. Uma “via crucis” do Porto a entre-os-rios. Deus cruel, que tudo ofende e nada respeita. E tudo por causa de umas malaguetas para fazer piri-piri. Ou talvez apenas um pretexto para viver.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Esta coisa agora da Maitê Proença... não tem importância nenhuma. A mulher é uma ignorante e limitou-se a agir como tal. Acho mesmo que é estar a dar-lhe muita importância com este barulho todo que se tem feito.
Por mera coincidência tenho tido uns amigos brasileiros aqui no Porto de férias, os quais também se mostraram chocados com as notícias. Mas acho que o caso não é para tanto, já que como disse, a mulher mostra-se como uma ignorante total, uma pessoa fútil.
O meu amigo Eduardo (carioca), que não é nenhuma estrela pública, sabe infinitamente mais sobre o Brasil e Portugal do que essa senhora das telenovelas algum dia há-de saber. E isto apenas pela simples razão que ele está interessado em compreender as coisas e não apenas em retirar ilações primárias de tudo o que vê.
Esqueçam o mais depressa possível este acidente “diplomático”.
O brasileiros são os nossos verdadeiros irmãos. Nem os africanos, muito menos os espanhóis, o povo brasileiro é o único que tem genuinamente raízes que nos unem.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Como se não basta-se ter-se ido buscar o pobre do Jorge de Sena em estado cadáver aos Estados Unidos, portanto sem se poder defender, agora é a tômbola da Amália. Primeiro enfiaram-na no Panteão, a fazer companhia ao Camões, ao Garret, ao Pessoa, enfim tudo vitimas deste poder nojento e inculto que cúpula com os seus cadáveres. Agora comemora-se os dez anos da morte da mesma Amália para fazer render mais alguns lucros a uns não sei quantos.
É claro que Amália Rodrigues é um dos fenómenos mais impressionantes no capítulo da comunicação musical dos últimos cem anos, mas todas estas efemérides não têm nada a ver com isso, mas sim com o comércio fácil do cadáver indefeso.
O fenómeno Amália só interessa verdadeiramente àqueles que foram possuídos por ela de uma maneira irracional, num dado momento, ainda que depois se possa elaborar imensa argumentação intelectual para o justificar.
Agora mesmo ouço Amália. Uma gravação dos anos oitenta. O unico problema e mesmo este não o chega a ser - a não ser num ideal de perfeição que nós próprios construímos - é que ela continuou a cantar para além do que lhe era possível.

sábado, 3 de outubro de 2009

Parece já ser certo que os irlandeses votaram sim no referendo. Depois de dizerem não, dizem sim. Claro que pelo meio toda uma chantagem do poder político no sentido de incutir medo nas massas para estas votarem da maneira que lhes convem. A pressão foi imensa. Todos os poderes dos países da união europeia se uniram no apoio ao governo irlandês nessa estratégia intimidatória, que pelos vistos resultou. É a democracia dos nossos dias em funcionamento.

O Brasil foi o país escolhido para a proxima realização dos jogos olímpicos em 2016. É uma boa notícia como é evidente. Não há país mais vocacionado para a festa do que o Brasil e sendo a cicade escolhida o Rio de Janeiro está práticamente tudo feito em relação ao enquadramento estético do evento. Mas não é só: o clima extraordinário que solta a cidade o povo receptivo e humilde que a habita e a topologia única que a caracteriza, são elementos que praticamente condenam ao sucesso esta realização. Claro que vai haver confusão, desorganização, derrapagem nos orçamentos apresentados e outras coisas no género, mas isso não é o mais importante.
Portanto… temos agora um presidente que partilha as suas interpretações pessoais sobre factos ocorridos na sua vida com o povo. Não se tratam por isso de factos concretos. Não, são sinais, idiossincrasias, suspeitas de que algo aconteceu de determinada maneira. Trata-se da interpretação dele. Aliás, admitiu até que outros terão outras. É novo e é extraordinário. Faz o país paralisar de expectativa para depois vir revelar os seus pensamentos sobre determinado assunto. Assim como uma conversa que se tem ao pequeno-almoço com a mulher.
Será que esta atitude é para manter? Poderemos contar a curto prazo com mais interpretações do presidente? Será que as mesmas se vão restringir à sua vida doméstica ou se prolongarão para aspectos culturais, como a poesia, a pintura o cinema?