quarta-feira, 27 de maio de 2009

CRAMOL


Um grupo de mulheres, cerca de vinte, insistem à mais de vinte e cinco anos em manter um projecto de música etnográfica de cantos polifónicos ligados à voz feminina. Fazem-no bem - cada vez melhor. O grupo chama-se “Cramol” e é uma prova de resistência dentro da lixeira mediática a que todos estamos expostos. Lançaram agora o segundo disco, em 25 anos, o qual se chama “Vozes de Nós”. A ideia inicial era nem entrarem neste circuito dos discos, mas acabaram por ceder às solicitações. A não perder, de preferência ao vivo, como é evidente.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Bénédicte Houart


Foi minha professora de estética. Alta, magra, sempre de escuro, discorria sobre a “Critica do Juízo de gosto” de Kant. Tinha uma coreografia muito própria de braços e mãos, sobretudo nas longas pausas que fazia na procura das palavras certas para uma melhor compreensão das ideias do filósofo alemão.
De repente desapareceu. Deixou de dar aulas. Vive em Coimbra e escreve poesia. Saiu agora o seu terceiro livro que se intitula “Aluimentos”. Linguagem solta, agreste, que mata com doçura.

terça-feira, 12 de maio de 2009


“O objectivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo próprios. As suas almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade que é a base da moral e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam. E no entanto, acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expressão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico. Mas o mais corajoso dos homens tem medo de si próprio.
A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na auto-negação que nos corrompe a vida.
Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentámos estrangular, germina no cérebro e envenena-nos.”
Óscar Wilde

quarta-feira, 6 de maio de 2009


A Uma Amiga

Falava com ela como com uma mulher qualquer. Mas não era. Não era uma mulher qualquer. Às vezes surpreendia-me a vela chupar no dedo polegar da mão direita. Era fascinante ouvi-la falar dos livros de Sherlock Holmes e justificar cientificamente (dada a sua formação) como tudo era genialmente construído. Apesar da sua expressão revolucionária, vestia como uma aristocrata – veludos e rendas eram habituais nas suas indumentárias disfarçadas por jeans coçados. Não usava anéis, o que era uma das suas virtudes, já que tinha umas mãos perfeitas. Gostava de conversar. Às vezes estávamos os três e acabava-mos a noite com a boca seca de tanto falar. Bebia-mos vinho, ou whisky, conforme o que havia e então é que era falar, falar, pela noite dentro. Estava-mos às vezes em desacordo, creio que mais para espalhar a reflexão do que seriamente em desacordo, mas estes eram sempre os momentos mais virtuosos da conversa.
Um dia, deixas-te ficar cá em casa um cinto que cingia o teu vestido de veludo bordeaux. Ainda cá está e estará, até que tudo se decomponha e se organize de maneira a ir de novo ter contigo.
"Não poderá a doutrina molecular ser tão útil na organização e extensão do nossso conhecimento do comportamento das coisas observáveis, e, contudo, ser factualmente falsa?"
W. Quine

terça-feira, 5 de maio de 2009

Lembram-se de há uns meses ter falado no livro de Adriana Lisboa – “Rakushisha”? Pois agora aqui vai um excerto do mesmo lido pela própria Adriana
Cortejo da Queima das Fitas. Confusão no centro da cidade. O tempo está bom o que ajuda na deslocação a pé dos entusiastas do evento. No que toca aos carros o mesmo não se pode dizer. Senhoras bem vestidas com rostos resplandecentes e coradinhas afluem ao centro urbano para ver os filhos desfilarem. Estão felizes. Os estudantes circulam de um lado para o outro com as suas cartolas, bengalas e camisolas que anunciam os respectivos cursos. A meio da tarde ainda se mostram tímidos e pouco ruidosos, mas com ar de ansiarem o fim de tarde e a noite que trará consigo o álcool suficiente para conseguirem emancipar, por algumas horas, a sua alegria e vontades mais primárias. Nada de novo, portanto, mas o que caracteriza este tipo de acontecimentos é precisamente o não apresentarem nada de novo, seguirem uma tradição.

segunda-feira, 4 de maio de 2009