sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Congresso do P.S.

20:23 Sócrates discursa em mais um congresso do P.S. que é afinal não mais que um comicio. É primário, na técnica do discurso aplicado, nas inflexões do mesmo, tudo é primário, salva-o possivelmente o primarismo do povo que governa e ao qual presta serviços como o das "Novas Opurtunidades" de que ainda à pouco falou e que não são mais do que opurtunidades para o primarismo. Fala agora da crise mundial como era de prever para se escudar e atacar a oposição...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A ORIGEM DO MUNDO

"A Origem do Mundo"
Gustave Coubert
Ontem, foi noticia o apreendimento de uma série de exemplares de um livro sobre Arte, o qual tinha na capa uma imagem do quadro “A origem do Mundo” de Gustave Coubert pintor francês do século XIX. O caso deu-se em Braga numa feira do livro que decorre nesta cidade. Muita polémica nas noticias, à falta de assunto melhor, mas o facto fez-me recordar outro bem pior que foi na inauguração da exposição total da obra do autor, à coisa de uma ano no museu D´Orsey em Paris. O presidente da república Sarkozy que esteve presente na mesma e se fez fotografar em todos os momentos para mostrar como era um homem interessado nas coisas da Arte, foi habilmente desviado desta mesma obra para não ser fotografado a observá-la. Isto sim dá que pensar. Como continua o sexo a ser um motivo de embaraço, de vergonha, de medo afinal.
Carnaval???
Devem estar a brincar, não?
Carnaval é todos os dias, não o Natal, como dizem.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Hoje, enquanto passeava o tédio de fim de tarde pela rua de Santa Catarina, entrei na Fnac e dei uma vista de olhos pelas publicações mais recentes. Os meus olhos e depois as minhas mãos logo se dirigiram para um exemplar que tinha como titulo – “Perdidamente” e como subtítulo – correspondência amorosa (1920-1925) Florbela Espanca. Arranjei um lugar num daqueles bancos estufados, o que é raro, e sentei-me a folhear o livro. Trata-se, na sua maioria, de cartas trocadas entre Florbela e António Guimarães o seu segundo marido, às quais se juntam algumas do primeiro marido a ela e ao pai que são de especial interesse para perceber a relação destes e em especial do pai com ela, quer dizer do papel que o pai teve na vida dela. Parece-me um acervo importantíssimo para quem estiver interessado em perceber mais um pouco daquela extraordinária pessoa.
O livro tem um prefácio de Inês Pedrosa, absolutamente dispensável, como quase tudo que a mesma escreve. É sempre bom estarmos ao lado dos grandes quando somos pequenos.

domingo, 22 de fevereiro de 2009


Acabei de ler o livro de Adriana Lisboa - "Sinfonia em Branco" de 2003 editado pela Temas e Debates. A autora esteve a semana passada em Portugal para participar no encontro de escritores da Póvoa do Varzim e promover o seu ultimo livro que se chama "Rakushisha" (2007).
Gostei bastante da escrita dela a qual apela muito aos sentidos - cheiros, sons, cores, pequenos ruídos, criação de espaços temporais e climas que envolvem uma história sabiamente disposta através de uma narrativa que entrelaça diversos momentos e épocas da vida dos protagonistas. Vale a pena ler. É uma lufada de ar fresco.
Ganhou o prémio José Saramago, que julgo não interessa para ninguém a não ser para ela, claro.



NOSSO TEMPO

Dumas coisas passa-se às outras.
Sem interrupção.
Sem reflexão.
Tudo é emocional.
Estamos aqui todos, portanto.
Ninguém escapa.
Melhor.
Alguns escapam, porque se marginalizam e com isso criam mundos paralelos.
O importante é não estarmos em nós.
Uma casa cheia de espelhos.
Não
O prazer.
Animal. Sexo. Comida. Violência.Sublimar.Homem. Televisão. Internet. Droga.
Homos evasivus
O bem-estar. O melhor. A felicidade.
O melhor é esquecermo-nos de nós e retirar o prazer que nos vem do exterior.
Compramos. Vendemos. Matámos. Roubamos. Extorquimos. Violamos.
É o que nos é sugerido.
São os códigos em que nos movemos.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Crise. E vai ser para anos. Mas o tempo como temos visto é uma coisa relativa, portanto não tem interesse estar a quantificar como alguns andam a fazer. A crise vai ser até 2010 dizem alguns. Mas a verdade é que eles não fazem a menor ideia do que vai ser o futuro. A única coisa que conseguem alcançar é a tentativa de inventar um truque para a economia dar a reviravolta e voltar a ficar tudo na mesma. Mas acho que isso não vai acontecer e será péssimo se tal acontecer.
A pacificidade com que tudo se está a passar no território nacional é no minímo enternecedora. Ninguém protesta coisa nenhuma, não há manifestações publicas de descontentamento, nada. Basta dizer-lhes que o problema vem de fora, que todos se conformam.
As pequenas e médias empresas fecham umas atrás das outras, o desemprego está absolutamente descontrolado, os ditos ricos vêm as suas fortunas diminuir e este é verdadeiramente o facto novo desta crise, mas lá fora também se passa o mesmo, portanto o mal não é cá de dentro, é o que pensa o povinho. Era chegada a altura de apurar responsabilidades, nacionais e mundiais, mas não, cada um se vai escudar no facto da coisa ser internacional. Alguém irá fazer a avaliação do ocorrido? Sim, um grupo de intelectuais dos vários países que ninguém vai ouvir, porque não interessa. Se fosse possível voltar atrás todos votariam nisso, vive-se numa espécie de embriaguez, o problema é que agora está-se numa espécie de delirium-tremens.
O Mário Soares anda agora a mandar bocas e a dizer o óbvio, como se ele não tivesse culpas no cartório.
Não conheço um único político que tenha um pensamento para o país e quero com isto dizer para o território a administrar e para o povo que lhe está circunscrito.
Que vamos fazer com este país e esta gente? É a pergunta que nunca se fez desde o 25 de Abril. Que limitações tem o país e o povo que o percorre e que qualidades ambos têm também? Pensar isto e resistir com a resposta.
É evidente que não queremos ser alemães, nem franceses, muito menos espanhóis. O que queremos sim é ter o nível de vida deles o que quer dizer o mesmo acesso ao prazer dos ditos cujos. Porque como qualquer ser bem pensante sabe tudo se resume a isso – ao prazer e à carência do mesmo. Como digo, se fosse possível voltar atrás, ao tempo do impossível, em que se compravam casas, carros, electrodomésticos e outras coisas sem se poder na realidade faze-lo, toda a gente diria que sim. No fundo acho que os portugueses e talvez os brasileiros conseguem essa coisa de viver o dia-a-dia. Vamos ter prazer hoje que amanhã podemos estar lixados. E até não me parece mal como atitude do povo em si, agora, como método de governação é trágico como se viu.
Tenho reparado nas pessoas no seu quotidiano. Todos disfarçam a crise, como é natural. Ninguém quer dar parte de fraco. Há dias encontrei a minha ex-aluna Paula que tem sempre muitas queixas a fazer dos seus problemas laborais e até físicos. Perguntou-me, já à despedida e depois de ter descarregado o seu saco de queixas, “E com sigo está tudo bem? E colocou assim um ar de quem duvida do que eu possa dizer mesmo antes de eu dizer qualquer coisa. Respondi – “ tudo bem a que nível? Psicológico? Físico? Económico? A que é que te referes? Disse: “No geral!” respondi: “vamos dizer que...está tudo bem!” não me pareceu muito convencida mas assim nos despedimos e fomos um para cada lado.
Este hábito indecente de perguntar às pessoas se está tudo bem é apenas um tique que os portugueses adoptaram dos brasileiros. Mas consoante a estabilidade ou instabilidade social ele ganha outros contornos e expectativas. O que é certo é que a maior parte das pessoas quando lhe perguntam se está tudo bem respondem que sim, o que é extraordinário uma vez que passado um momento estão a queixar-se de tudo e mais alguma coisa.
Vou me queixar.
As botas por baixo do lavatório. Onde estarão as meias?
Não ás rotinas! Tudo em desordem! Que é uma ordem também.
As botas por baixo do lavatório.
Mas não são as botas do Salazar. Meias-solas por estrear. Já se deitam botas fora sem mudar as meias-solasm,mas os tempos estão a mudar e vão voltar as meias-solas.
Não acreditam? Não vêm as senhoras a abrir lojas onde se prestam a coser roupa, a alinhavar, a subir calças e saias a colocar forros? É, é isso, os tempos estão a mudar e a mudança implica uma inflexão nos hábitos adquiridos.
As noticias? São o mais deprimente que possas imaginar. Está tudo a vir abaixo, as empresas, o comércio em geral – o país.
As pessoas podiam aproveitar para se unir, não era? Mas não dá. Criaram-se hábitos egocêntricos e de ostentação que não permitem agora as pessoas de um momento para o outro serem simples e darem-se umas às outras. A imagem, a imagem, tão importante se tornou nestes tempos de multi-média que as pessoas não conseguem pensar além dela e sendo assim estão todos muito preocupados em manter a imagem que tinham na nova realidade que não lhes permite ter a mesma de então.
Mas as botas, as botas debaixo do lavatório, ou as do Salazar, não importa. Há dias ouvi num daqueles diálogos entre o psicanalista Amaral Dias e um jornalista, o primeiro a dizer que já não sabe o que é mudar as meias-solas, de onde se presume que quando estas chegam ao fim compra outros sapatos. Mostra com isto que é um homem do presente, quer dizer que não se afeiçoa aos objectos, sejam de uso próprio ou não. Começa a definhar, deita-se fora. Fiquei espantado, não sei bem porquê, ou antes, sei, não estava à espera que um tipo daqueles assumisse uma atitude daquelas.
Como já te disse, tenho andado a ler o livro da Agustina sobre o Marquês de Pombal. Uma coisa de que já suspeitava tenho agora a certeza, o homem ficou na história graças ao terramoto de 1755. É claro que teve competência para saber administrar o caos que se gerou e sobretudo para saber rodear-se das pessoas mais capazes para o resolver, mas se não fosse o terramoto, o nobre rural e sem estudos que ele era nunca teria ficado na história. Claro que tinha também alguns atributos que ajudam o déspota no uso do poder, que são: a frieza perante as situações, a ambição desmedida, a capacidade de aguentar todas as humilhações com o olhar num futuro de redenção.
Outra coisa, há dias vi uma entrevista com o escritor António Lobo Antunes para um canal brasileiro, no qual o mesmo apareceu bem disposto e a fazer uma espécie de rábula com o apresentador. Gostei e pareceu-me genuíno. A coisa passava-se em Nova York e como já disse para o Brasil, o que se calhar libertou o homem daquele tom habitual nas entrevistas nacionais. Às vezes leio as crónicas que escreve na revista “Visão”. Umas interessantes, outras não, como é natural, mas sempre uma tendência egocêntrica. Isto a propósito de que me tenho sentido, diga-mos…com vontade de dar uma oportunidade ao homem na minha galeria de escritores tão exigente. Vamos ver o que acontece.
Ouço agora, na rádio, que este primeiro-ministro que nos calhou, dito Sócrates, está preocupado com o casamento dos homo - sexuais. Fala a propósito do filme “Milk” e diz que não tem orgulho nenhum da forma como a sociedade portuguesa descrimina os homo-sexuais. Está em campanha, já se vê.
Ah! Tinha me esquecido de assinalar que hoje não choveu o dia inteiro, formidável, não? O nosso amigo deve ter finalmente acabado de pôr a roupa a secar e nós aqui em baixo sujeitos a tudo. E por falar em estar por baixo lembrei-me da pinga que me fez companhia nestes dias consecutivos de chuva. Vou baptizá-la, a ela e ao rato que me anda a lixar os rodapés da casa. A ela como é uma menina estou a pensa chamar-lhe sida, a ele que é um rapaz e que pelos vistos só trabalha à noite vou chamar-lhe Cancro, afinal são dois espécimes que só me atormentam a alma.