domingo, 26 de junho de 2011

Leituras

"Felizmente não vemos senão detalhes. Se alguém pudesse encarar uma alma até às maiores profundidades, e ver ao mesmo tempo de que ternura, de que ânsia, de que desespero e de que tempestadades essa alma é capaz, nunca mais podia desviar os olhos desse espectáculo. Fosse ela a minha alma ou a tua alma. Era o mundo todo, era o universo. Era Deus."
Raul Brandão "´Húmus"

sábado, 25 de junho de 2011

“É um erro supor que o homem ocupa um espaço limitado no universo: cada homem vai até ao interior da terra e até ao âmago do céu. A parte de cima foi cortada, mas o que resta da alma é um poço sem fundo. Uma obscuridade. Por vezes fala a lei e o hábito. Intrometem-se coisas abjectas a que não sei o nome. Agora é a vez do impulso – agora é a vez do interesse. A mania também tem os seus direitos. De mais baixo ascendem ordens que se não chegam a formular. Desço mais fundo no poço e encontro restos sórdidos e candura. Por baixo sonho – por baixo fragmentos e gritos…”
Raul Brandão – “Húmus”

sábado, 4 de junho de 2011

LEITURAS

"----------------------------------------------- creio que a leitura
é o acto sexual por excelência. Penetra,
atravessa, transubstancia. É o órgão dos
carismas do viator-faber. Sempre a mística
os quis separar do seu órgão - o que teve
efeitos terríveis - admitindo, todavia, que
carismas e união com Deus não eram
sinónimos. Exactamente como não são sinónimos
sexo e amor. São potências, sabores, forças experientes e eficazes.
Era importante que permanecessem no seio da bênção.
Mas todos os carismas foram dados ao humano
Jardim do Éden. Separá-los do seu órgão é enfraquecer
o livre arbítrio. Eram eles que pairavam à superfície das águas."

"se a procura da beleza não se inscrever nessa potência para a transformar em ágape, haverá belo que vibre no humano?
Haverá vontade esclarecida? Vi-me sentada à beira da água."

Maria Gabriela Llansol in "Inquérito às quatro confidências".