quarta-feira, 31 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

Choveu. Sim, choveu outra vez todo o dia. Abriguei-me em alpendres, entradas de lojas, igrejas. Numa delas estava a decorrer uma missa. Quatro horas da tarde. Igreja cheia. Todos os lugares sentados ocupados e ainda gente de pé. Deixei-me ficar pela entrada e olhei em direcção ao altar. Uma mancha branca denunciava a idade das pessoas que ali se encontravam, salpicada por alguns negros branqueados e alguns dourados artificiais. Oitenta por cento dos presentes eram do sexo feminino. O padre, engendrava uma narrativa baseada na exclusão de Maria Madalena e tentando actualiza-la como exemplo da verdadeira vontade de perdoar ao próximo. Não que ela não tivesse pecado, note-se, mas sim que devemos perdoar mesmo ao pecadores como ela. Cansei-me daquilo e saí para o vestíbulo. Chovia ainda mais. Um casal de meia-idade aguardava também que parasse de chover. Um grupo de quatro “mendigos” discutiam na ala direita, não consegui perceber sobre o quê, possivelmente sobre as esmolas. Todos vestiam jeans e sapatilhas nicke. Atirei-me à chuva aceitando a sua participação neste dia como não vai haver outro, porque os dias são todos únicos.
Hiroshima mon amour ao fim da tarde. Outra vez aquelas imagens, aquela hipótese de amor, a areia e a chuva tão parecidas com napalm. E afinal, tudo isto tão parecido com este dia. As decisões emocionais e as racionais a misturarem-se sem se conseguirem integrar.
Era um homem bom, dizem, penso eu também. Mas isso a que chama-mos um homem bom, não se confundirá a certa altura com a fraqueza do carácter? Foi para Africa, nos bons tempos, e, em lugar de enriquecer e se governar como todos os outros fizeram, esteve lá a brincar com os pretos e a admirá-los como se fosse ficar naquela terra para sempre. Casou-se com uma menina da alta burguesia que passado pouco tempo não aguentou aquele convívio com o primitivo e lá vem ele de trouxas aviadas para o continente. A partir daqui foi a decadência.
Penso em ti, claro, neste dia de napalm de nostalgia e que apesar disso abre todas as possibilidades para os que têm coragem de se atirar à vida e faze-la gritar de dor e de prazer.