segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Porto

O porto. Não o Porto dos postais e do turismo basbaque, mas sim o dos dias, que se esconde na sua evidência e na nossa cegueira. Nele tudo é possível: flores brotarem do granito enegrecido, pássaros nascerem da calçada.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A Papoila e o Monge


Último livro de Tolentino Mendonça, preenchido com haikus em busca do silêncio e da comunicação do imeditato. Segundo o ´próprio, depois de leituras de Bashô e de Jack Kerouac. Entrevista muito interessante sobre o assunto com o autor no último número do JL.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Consumir Cultura

«Segundo os dados do Eurobarómetro, divulgados pelo Público no passado domingo, os consumos culturais em Portugal sofreram uma forte redução relativamente aos resultados anteriores, de 2007. Estes inquéritos informam-nos sobre a evolução dos consumos das commodities culturais, mas deduzir dessas medições um teor e um estado geral da cultura é uma enorme falácia. A noção de "consumo" é cheia de equívocos quando aplicada ao campo da cultura, desde logo porque é meramente quantitativa e preenche essa forma de niilismo que se traduz no princípio de que tudo se equivale: não há hierarquias, qualquer coisa é agenciada com outra coisa e dirige-se, sem distinção, a qualquer pessoa. Todos conhecemos o pietismo das boas intenções culturais que faz da leitura uma moral e multiplica as campanhas filantrópicas a favor dos livros. Como se os livros, os filmes, os espectáculos e tudo o mais — muito mais, porque o universo da cultura é enorme e está sempre em expansão — não pudessem ser, não fossem efectivamente na sua maioria, e sem deixarem de ser produtos culturais, meios de produção da imbecilidade.
[…]
Esta ideologia que tem como modelo a homogeneidade do mundo da economia produziu também uma equivalência entre "excelência estética" e "excelência económica". A lógica económica das indústrias culturais requer a transformação do artista, do escritor, do agente cultural, em empreendedores de si próprios. A nostalgia da grande arte, dos grandes artistas e dos grandes intelectuais é um tropismo fundamental de todas as políticas culturais, do passado e do presente. Mas a grandeza mede-se agora pelo critério da "excelência", que se tornou uma "palavra-maná", um signo mágico que faz recuar as águas do mar e abre uma passagem para a terra prometida.»

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"Os observadores estrangeiros maravilham-se de que Portugal resista à crise politica e económica com tal poder de adaptação. Há nos portugueses uma sinceridade para com o imediato que desconcerta o panorama que transcende o imediato. O infinito é o que situo - dizem. E assim vivem. O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo."
Agustina Bessa Luís

terça-feira, 17 de setembro de 2013



YOCO ONO
A Yoco Ono, que deve ter perto de oitenta anos, foi uma mulher que ficou conhecida do mundo, porque no final dos anos sessenta aparece ao lado de John Lennon. Da relação dos dois muito se falou e fala e também do efeito dela no desmembramento do grupo Beatles. O que me interessa, pessoalmente, é que a senhora teve uma importância relevante nos movimentos vanguardistas das expressões plásticas dessa época. Muito antes de ter conhecido Lennon, já ela se tinha notabilizado através de performances e vídeos da sua autoria. Alguns destes documentos encontram-se agora disponíveis no youtube, e é interessante ver como eles resistiram ao tempo. Exemplos: The Fly e Four. Na minha humilde opinião o que aconteceu, foi que Lennon levou uma pancada na cabeça enorme ao conhecer a Yoco e isto fez dele um homem novo. Uma certa submissão quando na presença dela, pode ter a ver com isto. Embora seja ele a dar a cara nas prestações públicas que ambos fazem, nota-se como uma evidência a força da presença dela. Todas as suas atitudes politicas e artísticas a partir do momento em que se relaciona com ela passam a ter outra eficácia, ou mesmo a existir, já que antes ele nada representava a esse nível. Um documento igualmente impressionante para caracterização dos egos, é o vídeo feito na gravação de estúdio do álbum Let It Be. A hegemonia do Macartney, a submissão de Ringo, as indecisões Harrison e é claro, as tentativas de Lennon na concepção do produto final. A um canto do estúdio, Yoco, observa com um olhar de quem percebe tudo o que ali está a acontecer.

sábado, 30 de março de 2013





A expectativa foi criada atempadamente, uma semana e tal antes do acontecimento. Como era de esperar houveram comentários a favor e contra em termos que foram dos mais razoáveis e apologéticos aos mais histéricos e desagradáveis. Os dias passaram e chegou o momento. Não direi que o país parou, mas possivelmente desde o mais desinteressado cidadão ao presidente da república, não devem ter resistido a visionar o acontecimento.
A coisa foi aladroada como sendo um programa de comentário político mas neste seu primeiro episódio revelou-se como um espaço para Sócrates se justificar do seu passado político recente e de acusações que lhe têm sido feitas. Hora e meia lhe foi concedida para tal. O dito comentário político virá agora nas próximas semanas.
Os dois jornalistas presentes para o entrevistarem mostraram-se nada menos que medíocres perante um José Sócrates bem preparado para o palco das imagens televisivas. Pareceram intimidados por ele, confundindo números, não conseguindo fazer com que respondesse concretamente a muitas perguntas, metendo os pés pelas mãos como se costuma dizer.
Ele, Sócrates, por seu lado, mostrou-se seguro mesmo não estando e sempre dominando as matérias que lhe interessava expor,  só falando do que queria. Não menos importante e já conhecidas, as expressões faciais que utiliza para demonstrar inocência, contrariedade e injustiça, por exemplo quando os entrevistadores o interrompem colocando perguntas.
Enfim, era o que se podia esperar de uma entrevista com este personagem, que deve ter sido exigida pelo próprio como condição para fazer os programas que se seguem, já que ele está consciente do quanto a estação tem a ganhar em audiências. Entrevista feita por dois jornalista da casa que o contratou, sendo um deles o director de programas, portanto o homem que deve ter tido a ideia de o fazer.
Mesmo querendo ver o acontecimento como mero espectáculo televisivo acho que não fica outra coisa que uma enorme maçada. Hora e meia feita de um sujeito com uma lição estudada a defender-se do seu passado e a falar a maior parte do tempo de números, uma maçada.
Uma ideia sobre a sociedade portuguesa, o contexto social europeu, o que nos reservam os dias futuros, nada. O que fez durante a sua vivência de quase dois anos em Paris? Nada de substancial disse igualmente. Já no final do programa quando é interrogado sobre o falado estudo a que se dedicou, mais uma vez divergiu e falou apenas do que lhe interessou.
Parabéns

segunda-feira, 4 de março de 2013

Alguém falou?


Falou, sem ler, sem teleponto, num tom indignado mas sem gritaria nem histerismo. Denunciou muitos dos podres do sistema político actual e do próprio sistema da Internacional Socialista, o aproveitamento que é feito dos jovens pelos partidos e associações política, da crise dos valores do fim de uma civilização, da mentira que envolve todos os gestos políticos, da fraca preparação dos líderes actuais, etc.

Tirando a internet, o silêncio à volta da presença da mulher e do conteúdo do discurso foi significativo. Houve até quem se apressa-se a descobrir-lhe falhas de comportamento social para anular o impacto da coisa. Não causa espanto – é a defesa dos medíocres neste reino mediático em que vivemos.