quinta-feira, 30 de abril de 2009


AVS
Vou me embora. Parece que vai estar bom tempo nos próximos três dias e vai daí – vou me embora. Espero que todos fiquem na paz do senhor e sobretudo que se contenham nos vossos ímpetos mais lascivos e busquem a redenção por todos os meios. O Amor em Santo Agostinho vai ser o motivo da minha reflexão por estes dias.

quarta-feira, 29 de abril de 2009


“E, tendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu, quase por meia hora. E vi os sete anjos, que estavam em pé diante de Deus; e foram-lhes dadas sete trombetas. E veio outro anjo, e parou diante do altar, tendo um turíbulo de ouro; e foram-lhe dados muitos perfumes, a fim de que oferecesse as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono de Deus. E o fumo dos perfumes das orações dos santos subiu da mão do anjo até à presença de Deus. E o anjo tomou o turíbulo, e o encheu de fogo do altar, e o lançou sobre a terra, e houve trovões e vozes, e relâmpagos, e um grande terramoto. Então os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-se para as tocar.”
Apocalipse de S. João

terça-feira, 28 de abril de 2009


A pandemia está aí! É o fim do mundo! Primeiro a crise, agora a gripe suína, estamos feitos. É o apocalipse. Estava tudo escrito e ninguém quis saber. É o final dos tempos e o México aqui tão perto – à distância de um espirro. Fechem as fronteiras! Isolem os tipos que dão mais de dois espirros por segundo. Vigiem os vossos vizinhos. Não apertem a mão nem ao melhor amigo. Evitem o contacto com o outro. Lavem-se frequentemente. Rezem. Os que não souberem aprendam, existem Bíblias a preços módicos nas livrarias Salesianas e na Fnac. Preocupem-se. Entrem em pânico que o caso não é para menos. Encomendem as vossas almas que ainda não é tarde.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Serviço Público
Gripe Suína (malditos porcos)
Vírus H1N1
A organização mundial de saúde subiu o nível de alerta para nível 4 o que significa risco de pandemia. Em Portugal o governo garante que não há registo de casos nem suspeitas de infecções, tal como aliás, bem vistas as coisas não existe crise nenhuma. A ministra da saúde garantiu que os dois milhões e meio de tratamentos que existem chegam para qualquer eventualidade.
Quais os sintomas desta gripe?
Dores no corpo, tosse, espirros, como em qualquer gripe, mas no caso deste tipo H1N1, existem dois sintomas particulares: o vómito e a diarreia.
E cura?
Só dentro de quatro a seis meses haverá uma vacina, no entanto existem dois medicamentos anti-virais: o Tamiflu e o Ralensan.
Para esclarecimento de dúvidas ligar para o 808 24 24 24 (linha saúde 24)

domingo, 26 de abril de 2009


È evidente que tendo em conta o caminho que as coisas levam, o que quer dizer as opções do poder vigente, tem pouco sentido ou nenhum andar a despertar as pessoas para os benefícios da expressão artística, ou para os benefícios da critica e especulação racional proporcionados pela filosofia. O que mais me incomoda no processo é o não assumir deste facto por parte dos executores. Tendem a encarar as ditas disciplinas com algum paternalismo que as esvazia da sua razão original e a transformá-las em algo de supérfluo. Isto tudo à mistura com a ignorância do povo, com o qual contam a seu favor, vai resultar numa lenta agonia das ditas. Só não se extinguiram em definitivo, porque os seus produtores fazem-no não por opção mas por necessidade absoluta.

sexta-feira, 24 de abril de 2009


25 de Abril. Curiosamente o tempo está idêntico ao daquela manhã em que fui mandado embora do colégio sem grandes explicações. Em casa também não as houve. Fui me apercebendo aos poucos do que acontecia sobretudo pelas reacções quer das pessoas da família quer das pessoas da rua. Mas é interessante reviver agora o processo já que a memória que tenho dos primeiros dias é de uma estranha calma. Pouca euforia, muita desconfiança e por fim lá veio a algazarra já próximo do 1º de Maio. A principal excitação, já na altura, veio pela televisão e pela rádio. E o que chegava era tudo a falar ao mesmo tempo, confusão portanto, um grupo de militares sentados a uma mesa em pose, preparados para falar ao povo através da televisão. Tento lembrar-me das sensações de rua naqueles primeiros dias e não me lembro de nada de excepcional, aqui na zona onde moro é claro - centro do Porto. Nem de gente aos berros na rua a gritar a revolução, nem de rostos de alegria, não me lembro de nada disso. Houve um recato desconfiado nos primeiros dias. Como disse, a excitação vinha toda da televisão. E a televisão assim conduziu já na altura os nossos movimentos e as nossas sensações. Imagine-se então o que terá sido a recepção da revolução por esse interior adentro. A revolução deu-se em Lisboa e de Lisboa propagou-se ao resto do país pela rádio e pela televisão. O meus pais eram vivos e estavam comigo, mesmo não me explicando coisa nenhuma estavam. Os meus irmãos, o que inclui duas e um, estavam todos casados e por isso não comigo. Viviam já as suas “tragédias” pessoais. Amigos não tinha. Vivi portanto na solidão da minha interpretação esta data que não teve em mim nenhuma espécie de estremecimento emocional.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

SEIS MULHERES (não comuns)


Seis mulheres excepcionais no desempenho das suas vidas. Umas com obra reconhecida, outras excepcionais apenas pela vida que tiveram (fizeram), o que já não é pouco convenhamos. Aliás, o ponto de partida do meu interesse foi a obra de algumas delas, mas com o tempo o que se tornou mesmo fascinante foi a descoberta dos percursos existenciais de cada uma. Várias coisas têm em comum, mas uma delas é evidente – a coragem com que enfrentaram a sociedade, que em alguns casos não chegou para enfrentar a vida.
Virgínia Woolf (1882-1941)
Florbela Espanca (1894-1930)
Hanna Arendt (1906-1975)
Annemarie Schwanzenbach (1908-1942)
Etty Hillsuman (1914-1943)
Sylvia Plath (1932-1963)

Fátima Guedes

Para aliviar um bocadinho a coisa...
Há muitos anos descobri uma cantora brasileira chamada Fátima Guedes que me fascinou pela novidade do discurso, quer musical quer poético, quer ainda pela interpretação intensa e introvertida. Compositora, interprete e letrista da maior parte das músicas que executava, transmitia uma frescura no discurso que era na sua maior parte um discurso intelectualizado. Elis Regina descobre a sua obra e logo a adopta munida da sua intuição musical profunda, como fez aliás em outros casos. Entretanto o tempo passa e a rapariga desapareceu do mundo mediático musical durante anos. Agora com esta oportunidade que o youtube nos dá de rever coisas antigas e até procurar por pessoas que desapareceram encontrei-a de novo. Mais velha, como é evidente, mais gordinha, mas o génio está lá. Em entrevistas que entretanto tive oportunidade de ver com ela pareceu-me ter percebido que o que aconteceu é que a mulher foi ostracizada por razões que não me apetece agora explanar.
O youtube tem vários vídeos da apresentação de um disco novo dela. Escolhi este porque é um samba do Jobim e é um momento de alegria na voz de uma grande interprete. Para quem não a conhece, não deixar de procurar as composições mais antigas e intimistas de Fátima Guedes.

quarta-feira, 22 de abril de 2009


Qual ancestral fala através de mim?
Eu não posso viver ao mesmo Tempo com a minha cabeça e o meu corpo. Por isso não consigo ser uma só pessoa. Sou capaz de sentir infinitas coisas ao mesmo tempo.
O grande mal de nosso tempo é não haver mais grandes mestres.
A estrada do nosso coração está coberta de sombras. Devemos, ouvir as vozes que parecem inúteis...E que no cérebro cheio de coisas aprendidas na escola, no asfalto e na prática assistencial,...e com o zumbido dos insectos que entram na minha orelha.
Precisamos encher os olhos e as orelhas daquelas coisas que existem no início
de um grande sonho.
Todos devemos gritar que construiremos uma pirâmide,...não importa se não a construirmos! O que importa é alimentar os desejos. Temos que tirar a alma de todas as partes como se fosse um lençol que cobre o infinito.
Para o mundo ir em frente, devemos dar as mãos, misturar os assim chamados sãos,...
com os que são chamados doentes.
E vocês sãos, …o que significa a vossa sua saúde?
Todos os olhos do mundo vêem o precipício em que estamos caindo.
A Liberdade é inútil se não tem coragem de olhar com os olhos da cara, e de comer connosco, e de beber connosco e de dormir connosco!
Os assim chamados sãos, foram os que conduziram o mundo para a catástrofe.

Homem, escuta!
Em ti, água, fogo e depois cinzas. E os ossos dentro das cinzas.
Os ossos e as cinzas!
Tarkovsky

terça-feira, 21 de abril de 2009

Hanna Arendt


(…) Aquele a que chamamos o «burguês», é um homem moderno, homem de massas, não observado nos momentos de exaltação em que partilha a excitação das massas, mas em sua casa, em segurança (hoje diríamos mais insegurança) do seu domínio privado. Levou tão longe a separação entre o privado e o público, o trabalho e a família, que já não consegue descobrir em si próprio qualquer ligação entre uma coisa e outra. Quando a sua profissão o leva a matar, não se considera um assassino, porque o seu acto não resulta de uma tendência pessoal, mas de uma aptidão profissional.

segunda-feira, 20 de abril de 2009


Do que é que somos feitos?
De carne, ossos, líquidos, plasmas, uma série de substâncias viscosas e pensamento.
A importância que cada uma destas partes tem no nosso dia a dia é estupidamente desigual.
Que importância têm as minhas pernas durante o dia a não ser o de executarem o que o córtex cerebral as mandam executar, ou as minhas mãos, ou o meu tronco e por aí adiante. Que tempo da minha atenção lhes presto a dignifica-los? Sei que existem e existem mais quando me doem ou causam qualquer tipo de problema.

O desprezo pelo corpo é uma característica cultural do ocidente. E não falo como é evidente de cosméticas e vaidades mais ou menos exageradas. Falo do sentir as partes como um todo, do ter consciência de cada parte do nosso corpo.
Pichagem nas paredes pelas quais passo a caminho de casa. Dizem revolta, mal estar, ironia, desprezo, vómito, mas ninguém se encontra lá, são anónimas como o medo global.

sábado, 18 de abril de 2009


A.S.

Arte - Em Miguel Bombarda (do lado de fora)

Sábado de chuviscos e céu enublado. Por entre a neblina a crise paira e toda a gente disfarça o melhor que sabe. Na Miguel Bombarda grupos de pessoas jovens e menos jovens, passeiam alegremente os seus egos pela rua numa tentativa episódica de parecer outra coisa que não aquilo que são. Perdão, não passeiam, deslocam-se e deslocam-se com uma certa ligeireza, pois a lentidão pode revelar o que tanto se esforçam por esconder. E depois há o patrocínio de um whisky qualquer que tudo vai remediar. Elas, têm um olhar de curiosidade que logo passa a um olhar de defesa duro e implacável. Eles, um olhar perdido de quem não sabe bem qual o seu papel, entre o macho seguro e o suicida. Tudo se desenrola numa aparente leveza, mas a tensão está lá em cada gesto, em cada olhar. Muitas exposições, grande parte delas colectivas o que denota uma certa paragem no trabalho dos artistas ligados às galerias. Devem estar deprimidos.
Uma análise das tipologias presentes neste “happening”, como é agora chamado por alguns a esta feira de vaidades mostra que a tessitura da mesma se alarga e isto é o que de mais positivo há a registar. Já não assistimos somente ao desfilar daqueles jovenzinhos todos vestidos mais ou menos de igual, com o mesmo tipo de penteados e de adereços com os quais julgam se qualificar na ordem dos artistas ou pseudo-artistas e às senhoras e senhores bem vestidos(as) que não levam o caniche porque já perceberam que isso cai mal, mas temos agora uma nova classe emergente de desesperados que se calhar entenderam que aquela situação tem a ver com eles também e aparecem para usufruir. Afinal o whisky é de graça e em alguns sítios dá até para comer alguma coisa. Os verdadeiros artistas nem velos, como é claro. Trata-se afinal de um arraial no meio de uma cidade provinciana. A minha esperança é que o grupo destes emergentes de que hoje dei conta aumente exponencialmente e transforme esta coisa numa verdadeira festa sem vaidades de gente que ainda por cima não as pode ostentar.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Das Formas


Lee Miller (1938)
" Sempre que, através do desemprego a sociedade atinge o homem, no seu funcionamento normal e no respeito que normalmente tem por si próprio, prepara-o para essa última etapa em que ele se dispõem a assumir qualquer função que seja, incluindo a de carrasco."
Hanna Arendt

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Só os sentidos podem curar a alma, assim como só a alma pode curar os sentidos.

Peter Zumthor



Capela de St. Nikolaus e Termas de St. Nicolaus
Peter Zumthor (Suiça)
Prémio Pritzker
Obras poéticas que marcam espiritualmente o espaço que habitam
Arquitecto com um mundo e um tempo próprios que não se expõe ao vedetismo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A política transformou-se numa gestão, mais ou menos eficiente, da distribuição da riqueza com vista a disfarçar o desemprego e favorecer o consumismo. Isto mesmo tem sido a politica nos últimos dez, quinze anos. Primeiro levaram as pessoas a acreditar que através dos créditos bancários e das compras a prestações as pessoas teriam acesso a uma série de bens, quer os imprescindíveis quer os supérfluos. Isto durou anos e governos sucessivos de especulação, de cheques sem cobertura, de especulação na bolsa, de irrealismo puro. Até que o ciclo terminou e agora chegou o momento da crise e o poder tem a capacidade de fazer acreditar as pessoas que a culpa no fundo foi delas, porque não se deviam ter endividado, porque aldrabaram até mais não poder, trabalharam pouco e no caso dos funcionários públicos que se baldaram o mais que puderam, como se essa não fosse a atmosfera que eles próprios criaram e na qual viveram impunes. O pior disto tudo é que as massas sentem mesmo essa culpa como sendo delas o que transforma a sua reacção numa apatia patética que engrandece os novos reformadores que não passam de gestores financeiros na melhor das hipóteses.
Brown - Sócrates - Sarcosi - o que se entende agora por políticos - gente com formação cultural limitadissima, com grande capacidade de resistência física, preocupados com a gestão da sua imagem pública, profissionais na relação com os media.

Sem titulo - Mark Rotcko
O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível.

domingo, 12 de abril de 2009

O Homem do Violino

O que foi diferente na situação é que o homem tirava um som de grande qualidade do instrumento. A princípio pensamos tratar-se de mais um dos muitos pedintes que assolam a cidade e tratamos logo de nos envolvermos no que estávamos a fazer e sobretudo não olhar para ele para não dar azo a qualquer tipo de diálogo. Mas a certa altura tornou-se impossível não olhar o homem e ele estava a tocar junto à nossa mesa. Percorri os bolsos em buscas de uma moeda para lhe dar, uma que não o humilha-se a ele nem a mim. Não é fácil já que é muito subjectivo, mas parece que ficamos os dois bem. Perguntei-lhe se era romeno, disse que sim. Era professor de música na Roménia e tem 65 anos. A pele escura, os olhos pequenos e cintilantes, sorriso meigo e cativante. Continuou a tocar andando pelo café. As pessoas que estavam dentro do café nesta sexta feira santa não resistiram à presença desta pessoa e da sua música. Todos tinham um sorriso na cara e olhavam-no com alguma surpresa.
Longe de casa, da pátria, dos amigos, um homem com um violino alegra um pouco os nossos dias cinzentos.

sábado, 11 de abril de 2009

E ela veio, no seu esplendor barroco, na sua placidez aristocrática. Molhámo-nos, ungimo-nos e usámos a palavra como revelação de nós próprios.
Conhecer uma pessoa é sempre um acto de transcendência.


“E eis que se deu um grande terramoto. Porque um anjo do Senhor desceu do céu, e, aproximando-se, revolveu a pedra, e estava sentado sobre ela; e o seu aspecto era como um relâmpago; e o seu vestido como a neve. E, pelo temor dele, aterraram-se os guardas, e ficaram como mortos.
Mas o anjo, tomando a palavra, disse às mulheres: vós não temais, porque sei que procurais a Jesus, que foi crucificado; ele já aqui não está, porque ressuscitou, como tinha dito.”
Evangelho Segundo S. Mateus

Sexta-Feira Santa

"Depois, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede. Então, ensopando no vinagre uma esponja, e atando-a a um hissopo, chegaram-lha à boca. E Jesus, tendo tomado o vinagre, disse: Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito."
Evangelho Segundo S. João

Velásquez

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tempo de Quaresma




“Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. E, perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz: Eli, Eli, lamma sabacthani? Isto é: Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?”
Evangelho Segundo S. Mateus
Ontem foi noticia de capa de jornal o facto de várias agências de viagens do país terem declarado esgotados os voos para destinos tropicais durante as férias da Páscoa. Numa altura em que os meios de informação se dedicam tanto à estatística, às sondagens e à investigação seria interessante saber a que classes profissionais pertencem estas pessoas. Não é difícil de o fazer nem é nenhuma invasão de privacidade, já que não interessa a identificação das pessoas para nada, mas sim a profissão que exercem. Só para perceber sociologicamente o que está a acontecer. Aliás, quando se transforma um facto como este em notícia de primeira página é porque se está a querer dizer qualquer coisa, não é assim? Então podiam ir um pouco mais longe.
Chegar à cidade depois de passar uns dias no campo provoca-me sempre um certo embaraço temporal e relacional. A agitação geral, o aumento exponencial do ruído, da poluição, a agressividade latente em toda a gente expressa nos movimentos corporais bruscos, no tom de voz e expressões faciais, torna tudo mais difícil. Claro que passadas umas horas é como se voltássemos ao nosso habitat natural – o inferno.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Solar do Outeiro


De origem medieval, é neste momento património do município de Paredes de Coura e encontra-se neste estado. O corpo principal do edifício recebeu intervenções ao longo do tempo, podendo-se observar por essa razão influências de carácter maneirista e barroco e de arquitectura dos finais do século XIX.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Paredes de Coura


Sol e chuva. O tempo passa mais devagar e torna-se mais fácil olhar para as coisas e pensar nelas. As vacas e os bois nos pastos são um exemplo a seguir. Os movimentos lentos, o olhar introspectivo, a rominação lenta. A igreja de Agualonga no meio do verde enublado. Na vila a mesma serenidade. Pouca gente e praticamente nenhuns sinais de semana Santa.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Tempo de Quaresma


Blue,Green and Brown - Mark Rothko

O Atelier


Um rectângulo que era a sala. Três janelas e uma porta. Muitas telas, resinas, cera, tintas, pincéis, papeis, lápis, lixo, discos, livros, um poster do Fernando Pessoa na porta, uma bicicleta, um computador, uma estante, cadeiras, um banco e finalmente outro rectângulo ao centro representando a mesa “eucarística”. Nesta, ganhavam forma não só as obras do artista como também nela se celebravam alguns momentos de degustação e de convívio entre pares que a memória irá guardar com toda a certeza. Acontece que tudo muda e estamos permanentemente sujeitos a forças que nos obrigam a tal e este espaço vai passar a ter uma outra utilização como já antes teria uma outra e assim infinitamente. Esperemos que um novo espaço nos faça esquecer este e assim nos ajude a suportar a perda que é afinal o destino de toda a vida humana.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Tempo de Quaresma

“Graças a Jesus aprendemos a glorificar a humildade e a esta não pode nascer de outra coisa que não seja a humilhação, senão será apenas falsa vaidade.”
Jean Genet

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Evitava olhá-los. Descia a rua sempre de olhar fixo no horizonte, o que quer dizer que olhava em frente mas sem ver ninguém em particular. Entrou no metro. Sentou-se num daqueles lugares de corredor em que as pessoas ficam umas frente às outras. Experimentou o olhar vago, aquele que permite ter uma noção geral do que se passa sem fixar nada. Ás vezes olhava para fora pela janela simulando um súbito interesse pelo exterior. Voltava a olhar para dentro. Olhava para o saco que trazia ao colo, fechava os olhos momentaneamente, fixava por momentos os sapatos, o ipod da menina que estava à sua frente, mas sem olhar para ela e voltava ao olhar vago. O olhar dos outros não tinha nenhuma importância. Eram cegos, era como se fossem.
Saiu do metro. Sentia o olhar dos outros mas não os olhava. Uma rapariga olhou-o, fixou-o, sentiu , mas não olhou para ela. Foi no semáforo frente à estação. Subiu a rua concentrando-se na respiração. Abdómen para fora, inspiração, abdómen para dentro, expiração. Parou na montra de uma livraria mas não conseguiu fixar nada do que lá estava totalmente concentrado na respiração. Parou numa confeitaria para tomar café e comprar pasteis de vitela. Olhou para a menina da caixa, pagou. Olhou para o homem que o atendeu e saiu. Na rua quatro jovens tocavam temas populares com som jazístico. As pessoas paravam. Parou também, mas pareceu-lhe ver uma pessoa conhecida no grupo dos que paravam e partiu. Foi ao sapateiro levantar uns sapatos que tinham ficado para arranjar. A porta estava aberta mas bateu assim mesmo e entrou. O sapateiro, homem de humor difícil de definir, resmungou qualquer coisa do género: "a porta está aberta não é preciso bater!", respondeu: "Era apenas para me anunciar!", disse o sapateiro: "você é bem grande! não precisa de se anunciar!". A conversa ficou por aqui. O preço do arranjo, tal como em outras vezes pareceu-lhe um calculo por alto, quer dizer, uma estimativa que leva em conta a cara do cliente. "Quanto é que devo?" resposta: "Hum..dez euros!". Pagou e saiu.
Sem comentários. A Grande Martírio.